Verifico, com enorme frequência, que as pessoas atribuem um
valor inestimável àquilo que os outros pensam de si. Os outros, como se de uma
casta diferente de nós se tratasse. A dinâmica social foi-se desenvolvendo
neste paradigma: todos falam de todos; todos opinam sobre o comportamento de
todos; todos se medem por comparação com os outros. Não é pouco usual ouvir-se “Em
relação a eles até estamos muito bem!”; “Falam de nós, mas se olhassem para
eles próprios…”; “Fazem de nós uns malvados, só porque…”.
Sempre os outros. O que os outros pensam. Mas vamos agora
pensar nós. É natural que o que os outros pensam seja importante. Somos seres
absolutamente sociais e seria uma hipocrisia dizer que o que os outros pensam
de nós não nos interessa. Claro que interessa! E deve interessar, até porque a
regulação do nosso comportamento se prende com preceitos que são sociais. No
entanto, a génese desta questão prende-se com a intensidade do valor que damos
ao que pensam de nós. A importância deverá ser pouca e, idealmente, não deverá
ter impacto no nosso bem-estar psicológico. E porquê? Porque estes outros
sempre falarão de vós!
Se têm bens materiais é porque são arrogantes e gostam
de se exibir, mas se não têm são um desgraçados e é uma pena, coitadinhos. Se
têm sempre um sorriso na cara porque estão de bem com a vida é porque são falsos
e estão a esconder algo. Mas se são sisudos é porque devem estar cheios de
problemas. Se estão gordos deviam estar magros. Se estão magros, devem estar
doentes. Se são bonitos, são armados em bons e devem ser más pessoas. Se são feios, são uns miseráveis.
Se são simpáticos e sociáveis, de certeza que querem qualquer coisa, mas se demostram
pouca disponibilidade para o outro são antipáticos ou antissociais. Se convidam
para uma jantarada lá em casa é para se ostentarem face à casa maravilhosa que
têm, mas se não convidam são uns preguiçosos que só vão às festas dos outros.
Percebem o ponto de vista? Haverá sempre o que dizer, o que
falar, seja qual for a nossa conduta, o nosso comportamento, a nossa atitude.
Por essa mesma razão, penso que a importância dada ao que os outros tecem sobre
nós, deverá ser mínima. Nós devemos ser a nossa própria medida, devemos ser os
nossos principais adversários para chegar cada vez mais longe, devemos ser os
nossos críticos primários, assim como devemos ser os nossos primeiros enaltecedores. Os outros terão sempre uma teia para tecer. Faz parte, é normal.
Provavelmente não deveria ter, mas foi para este porto que a humanidade foi
rumando.
Cuidem de vós!
Boa semana a todos!