quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A psique do dia # 13

Este texto foi por mim escrito há cerca de um ano. Infelizmente, e por inerência aos trabalhos desta semana, a sua publicação voltou a ser pertinente. Tomara que não o fosse... Deixo para reflexão.

É com algum pesar que esta constatação é verbalizada por mim. Existem cada vez mais adolescentes a estruturar em si perturbações do comportamento alimentar (anorexia, bulimia) e a criar verdadeiras deturpações da sua imagem corporal. Ressalvo que tal constatação parte essencialmente da minha prática profissional e não de nenhum estudo científico publicado.

De facto, os estereótipos de magreza instituídos na nossa sociedade, a malvadeza de alguns comentários continuados por parte dos seus pares na escola, a constante comparação com o corpo e o desenvolvimento físico das colegas e as exigências autocentradas, desmedidas e inconsequentes que as meninas colocam a si próprias, são alguns dos aspetos que contribuem para a instalação profunda destas perturbações.

São problemáticas fraturantes na medida em que causam um profundo sofrimento psicológico e roubam a adolescência, que deveria ser vivida com serenidade e sem preocupações tão dolorosas.

Obviamente que quanto mais cedo se intervir, melhor será o prognóstico de uma evolução positiva. Denoto, aqui, que alguma negação vivenciada por certos pais adia o início de uma intervenção consistente, que se deseja precoce. A negação é, neste caso como em tantos outros, um estorvo grave demais e deveras preocupante.

Claramente que compreender e aceitar que um filho está a estruturar em si uma narrativa indesejada é doloroso e muitas vezes insuportável, mas é neste momento que ser-se pai e mãe toma uma exigência imprescindível para o superior interesse dos miúdos. É preciso coragem, é preciso tomar medidas, pedir aconselhamento, apoio. Nunca, jamais, deixar o processo patológico instalar-se porque aí as consequências podem ser nefastas e o processo terapêutico pode tornar-se muito mais moroso, complexo e dependente de uma equipa multidisciplinar de técnicos de saúde. Atuar o quanto antes é o conselho que deixo!