quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A psique do dia #16


Quarta-feira! Dia dedicado às consultas de adulto e à reunião com uma colega de profissão. São sempre produtivas para a discussão de casos, para o debate sobre planos terapêuticos e consequente insight sobre a nossa atuação profissional.

Amo profundamente o acompanhamento psicológico de adultos, da mesma forma que o das crianças e adolescentes. Sinto que tenho subestimado a escrita dirigida à população crescida, em detrimento dos mais novos.

Eis que hoje, algo de insólito aconteceu e foi-me descrito pela parceira. Pena não ter sido vivenciado por mim…gostava francamente de o descrever na primeira pessoa. Não posso! Posso, contudo, partilhar um pouco daquilo que muitos sentem mas não expressam.

A forma como as pessoas se manifestam e exteriorizam o motivo da marcação da consulta na primeira sessão, diz-nos muito acerca de como decorrerá o processo terapêutico. Contava-me a colega que, questionando a cliente sobre o motivo que a trazia à consulta, obteve uma resposta deste género:

- Que estupidez essa pergunta! O que acha que me traz à consulta? Tenho a cabeça toda ##! Se você soubesse metade da missa mandava-me já embora para não ter que me aturar! Isto está tudo ##! Acha que vinha aqui gastar o meu rico dinheiro se estivesse em modos? Não estou!

E assim continuou a discorrer o discurso, desta forma franca, verborreica e honesta, despejando de si todo o conteúdo resignado e o sofrimento psicológico em que vive encerrada há mais de 15 anos.

O seu palavreado merece censura? Na minha opinião, não! Penso que o espaço terapêutico e a díade psicólogo-paciente devem ser de compreensão, respeito e tolerância. Se uma mulher se expõe com vocábulos que a sociedade definiu como “asneiras” mas que constam do dicionário português, não me ofendem, não me são dirigidos nem me repugnam, então há que respeitar e assimilar a sua forma de expressão. No fundo, o que se pretende é chegar e aceder ao seu interior mais íntimo, para estabelecer os moldes em que se irá ajudar determinada pessoa. Tão só! Julgar ou impedir a expressão livre e habitual de uma pessoa será contraproducente, a meu ver. Castrá-la, logo à partida, corrigindo ou pedindo que enobreça o discurso, revelar-se-á um verdadeiro estorvo à prática profissional.

Opiniões, apenas opiniões! Cada técnico terá a sua, certamente, mas simpatizei com o facto da colega ter tido o mesmo parecer que eu, dado que tudo correu bem! Vendo bem as coisas, só isso interessava! O resto, faz parte de dogmas e preceitos com os quais não me identifico.


crédito foto: apsicologaonline.com


terça-feira, 30 de agosto de 2016

A psique do dia #15


Muitas vezes, verificamos que à nossa volta tudo parece desmoronar-se: há conflitos laborais a reinar, existem problemas financeiros que trazem a insónia à cama, permanecem assuntos pendentes que precisam de resolução, subsistem problemas de saúde, preocupações com os filhos e toda uma variedade de temas que guiam a lágrima à alma (basta ver o telejornal).

Quando assim é, há uma verdadeira necessidade de se ter no lar, em casa, aquilo que não se encontra lá fora: paz, apaziguamento, conforto, carinho, sossego, aconchego. Quando estas condições não se verificam, há que repensar tudo! O nosso casulo merece ser inviolável pela violência, pelo constrangimento, pelo desamparo…e quando tal não acontece, é necessária uma profunda avaliação rumo à mudança!

Fica a dica! A vida deverá ser vivida. Dentro de portas, não se compadeçam com a sobrevivência!

Encerramento para férias


Estimados amigos e clientes,

As férias chegarão em breve à Psicologia em Dia. Assim, informamos que estaremos encerrados de 5 a 16 de setembro. Dentro deste intermédio temporal, abriremos portas apenas no dia 12, segunda-feira, para as sessões com os clientes que estão em processo terapêutico continuado.

Para marcações ou pedidos de informação, solicita-se que o façam antes ou depois do período de férias!

Obrigada pela compreensão!

Diana Sousa

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A psique do dia #14


Esta deveria ser a psique da semana! Estes dias de trabalho revelaram, mais uma vez, aquilo que apregoo há muitos anos (escrito há muitos anos) e que faz a introdução a este site/blogue da Psicologia em Dia:

Menosprezar a saúde mental e o equilíbrio emocional é o caminho certeiro para a infelicidade! Permita-se a cuidar de si, retome as rédeas da sua vida, tome a decisão!”

As pessoas vêm à consulta muito, muito tarde. Todos sentimos quando não estamos bem, física ou psicologicamente. Todos sentimos quando o mesmo se passa com os nossos filhos ou com a família. Toca a procurar ajuda antes que algo que não é saudável se instale, confortavelmente, na nossa mente. Sei que muitos não o fazem por constrangimentos financeiros, mas o Sistema Nacional de Saúde proporciona o serviço de Psicologia e os utentes podem solicitá-lo junto do médico assistente (de família). 

Posto isto, deixo-vos a dica! Quanto mais tempo passar, mais irá cimentar, mais difícil será trabalhar para o sofrimento passar. Simples assim. Franco assim Cuidem-se!

Bom fim de semana a todos e um mais especial a todos os nossos clientes! 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A psique do dia # 13

Este texto foi por mim escrito há cerca de um ano. Infelizmente, e por inerência aos trabalhos desta semana, a sua publicação voltou a ser pertinente. Tomara que não o fosse... Deixo para reflexão.

É com algum pesar que esta constatação é verbalizada por mim. Existem cada vez mais adolescentes a estruturar em si perturbações do comportamento alimentar (anorexia, bulimia) e a criar verdadeiras deturpações da sua imagem corporal. Ressalvo que tal constatação parte essencialmente da minha prática profissional e não de nenhum estudo científico publicado.

De facto, os estereótipos de magreza instituídos na nossa sociedade, a malvadeza de alguns comentários continuados por parte dos seus pares na escola, a constante comparação com o corpo e o desenvolvimento físico das colegas e as exigências autocentradas, desmedidas e inconsequentes que as meninas colocam a si próprias, são alguns dos aspetos que contribuem para a instalação profunda destas perturbações.

São problemáticas fraturantes na medida em que causam um profundo sofrimento psicológico e roubam a adolescência, que deveria ser vivida com serenidade e sem preocupações tão dolorosas.

Obviamente que quanto mais cedo se intervir, melhor será o prognóstico de uma evolução positiva. Denoto, aqui, que alguma negação vivenciada por certos pais adia o início de uma intervenção consistente, que se deseja precoce. A negação é, neste caso como em tantos outros, um estorvo grave demais e deveras preocupante.

Claramente que compreender e aceitar que um filho está a estruturar em si uma narrativa indesejada é doloroso e muitas vezes insuportável, mas é neste momento que ser-se pai e mãe toma uma exigência imprescindível para o superior interesse dos miúdos. É preciso coragem, é preciso tomar medidas, pedir aconselhamento, apoio. Nunca, jamais, deixar o processo patológico instalar-se porque aí as consequências podem ser nefastas e o processo terapêutico pode tornar-se muito mais moroso, complexo e dependente de uma equipa multidisciplinar de técnicos de saúde. Atuar o quanto antes é o conselho que deixo!

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A psique do dia #12


Não quero aborrecer, mas vejo-me obrigada a voltar ao tema pois ele assalta-me, muitas vezes, no contexto profissional.

Os sentimentos, o tempo que dedicamos e a força que emprestamos aos outros deverá decorrer de forma recíproca. Se um amigo não parece estar interessado em passar tempo connosco ou não nos devolve a amizade por um tempo que consideramos excessivo, devemos deixar de investir. Mas primeiro, e para que fiquemos sanados e bem resolvidos, devemos comunicar-lho e seguir a nossa vida, rumo a quem nos almeja.
O mesmo pressuposto para as relações amorosas e profissionais.

Vejamos dois exemplos (entre muitos outros) de relações observáveis na natureza. A parasitagem resulta de uma interação entre duas espécies, em que apenas uma retira partido da referida conexão, sendo que a outra é lesada. Por outro lado, há espécies que desenvolvem relações simbióticas, ambas dão e recebem para proliferarem e viverem melhor. Este parágrafo reflete a mensagem anterior. Resulta bem quando a lei da reciprocidade é assimilada! De outro modo pode ser até nefasta.

Se não vem nada de abonatório do outro lado, devemos estimular para que venha, devemos empreender esforços para que a situação mude! Mas tudo dentro de um tempo razoável! Quando verificamos, vezes sem conta, que a relação estabelecida não é simbiótica, devemos expô-la ao interlocutor da mesma (para que o apaziguamento reine no coração) e quebrá-la. Amigos, namorados, colegas…seja quem for!

Guardemos a energia dos afetos, do amor e da entrega para quem quer interagir da mesma forma. Dos outros fica o carinho que reinou em tempos, ficará uma história, uma página na nossa vida. Sem ressentimentos, sem rancores e sem ódios de estimação, que tão mal fazem à saúde física e psicológica.

 crédito foto: www.psicoterapia-sp.com.br

terça-feira, 16 de agosto de 2016

A psique do dia #11


Começo a semana com uma vontade imensa de partilhar convosco um email recebido por parte da mãe de um jovem adulto que acompanho. Depois da autorização para a partilha, com a óbvia salvaguarda da identidade de todos os intervenientes, cá deixo esta enorme beleza, carregada de tanto e de tudo, com tanto para esmiuçar, com tantos fenómenos para retalhar, imenso para dizer. Tecerei as minhas considerações no fim!


Olá Drª, boa noite,

Antes demais peço desculpa pelo atraso da resposta ao seu email. Onde estive nas férias não tinha net, o que hoje em dia parece uma desgraça mas vendo bem as coisas até é uma bênção....assim desligamos de tudo e do mundo, pelo menos por um período de tempo, ainda que curto. Fantástico!

Sim, senti uma enorme tristeza pela não companhia do X... pela diferença de férias ditas em família... porque o normal já não o é, pelo menos tendo em conta o que era habitual. As gargalhadas dos miúdos no banco traseiro do carro, as cantorias durante a viagem e as infindáveis vezes que ouvia a frase "mãe, falta muito para chegarmos ?",,,, fazem para sempre parte do passado!!

Demorei a responder-lhe porque sabia que certamente e de alguma forma iria remexer no passado que tanto quero enterrar mas que teimosamente permanece cravado  na minha memória! No entanto devo dizer-lhe que foram uns dias calmos, revitalizantes e que me deixaram espaço para olhar pela e para a M., da forma como ela merece como filha mas também como criança que é.

O tempo é mestre na cura das rasteiras que a vida nos prega e nesse sentido confio nele...

Quanto ao X., acho-o francamente melhor e empenhado em "dar a volta por cima". Raramente está em casa, sai com os amigos, ... já não tem nada a ver com o X. fechado no quarto a remoer pensamentos !! No entanto, a nossa relação de mãe e filho já teve dias melhores.... o X. não é nada fácil, como sabe e por vezes leva-me a situações que reconheço menos assertivas mas difíceis de evitar.... é o nosso X.!! Mais uma vez terei que confiar no tempo para que o amadureça , para que lhe dê lastro para enfrentar as coisas básicas da vida que também são importantes e fazem parte dela.

Esta semana foi acampar com os amigos e por isso resta-nos esperar pela próxima semana, para agendarmos a reunião a quatro que propôs e para a qual estamos disponíveis, eu e o P.

Desculpe o rol de desabafos que habitualmente escrevo mas a escrita também é uma terapia, uma forma de raspar camadas queimadas da alma!!!

Obrigada por estar aí.... e por cuidar do meu X. já um homem.....mas para mim, o meu eterno menino!

Aguardo a sua disponibilidade para agendarmos a reunião.

Beijinhos,

O. 

Apaixonei-me pela honestidade emocional que este texto retrata. Num mundo cada vez mais elaborado de fachadas coloridas por fora, mas podres por dentro, numa realidade cada vez mais orientada para a demonstração do sucesso e bem-estar, mas vivendo de uma imensa simulação, este texto é uma verdadeira lufada de ar fresco. Ar puro de veracidade, de integridade e transparência, num texto organizado com um charme próprio, daqueles que me comovem profundamente.

A chamada de atenção para o facto de ser necessário desligar do mundo é inegável. A vida tal como nos é apresentada hoje, não permite ao cérebro descansar realmente. O mundo da informação 24 sobre 24 horas, pelo telemóvel, televisão, consolas de jogos, tablets, computadores e internet destrói a necessidade que o organismo tem de descansar efetivamente. Só a longo prazo se sentirão os destroços do mundo tecnológico em que vivemos.

O atribuir-se de um saudosismo da infância dos miúdos, por parte de uma mulher divorciada é de uma importância indescritível, que a muitos pode passar ao lado. Existe uma tendência à negação e à não permissão por parte dos próprios em assumi-lo, dado que vêm agregados a dor e o sofrimento psicológico. Não! Há que falar dele, expô-lo, evocá-lo, lembrá-lo…para que não permaneça encerrado nas prateleiras do subconsciente, causando danos maiores.

"A escrita também é uma terapia…”, diz-nos. Subscrevo! Escrever ou falar do que nos magoa é libertador e apaziguador. Esta maravilhosa mãe (que soube ter a coragem de procurar assistir o filho em tempo útil e sem o preconceito social que ainda reside na procura de ajuda psicológica) debita pela palavra, expulsa de si o que sente, com uma integridade e uma naturalidade inestimáveis.

Do ponto de vista da saúde mental, é um exemplo a seguir por todos nós. Aquilo que em nós entra para magoar, deve sair para nos aliviar. Simples!

Gostava que este testemunho incentivasse outras mamãs a refletir. O objetivo é e sempre será o mesmo: procurar o trilho menos doloroso neste percurso que é a vida, sempre colocando pedras nos nossos sapatos. Cabe-nos assimilar a direção mais prazerosa a tomar.