terça-feira, 29 de agosto de 2017

O complicómetro





A palavra - roubada de um professor - representa um dispositivo mental que tende a tornar a nossa vida muito mais complicada, por obra de pensamentos que extrapolam a nossa capacidade de os acumular. Muitos são os problemas que vão afetando o dia-a-dia de cada um de nós, mas o facto é que muitos deles são criados, engendrados ou engrandecidos por nós. No tempo em que o complicómetro está ligado, tendemos a antecipar angústias, a remoer em eventos passados, a dar o nome “problemas” a pequenos nadas. E enquanto o fazemos, a vida passa-nos ao lado: a vida no seu real sentido, aquela que experienciamos com os nossos sentidos e que tem a beleza que lhe soubermos ler. 

À semelhança de outras coisas da vida, o pensamento também se treina. Basta identificar os erros que incentivam a ativação do complicómetro. O lema deverá ser: Pensar menos e sentir mais. Raciocinar menos, conjeturar menos e vivenciar muito mais pelas experiências que os sentidos nos trazem a cada momento. Os erros que listo abaixo estão intimamente relacionados com a ansiedade. Se o desejo for o de não permitir que esta se instale, talvez seja importante travar-lhe o caminho e não dar espaço à sua progressão.
 
10 erros comuns de quem tem o complicómetro ligado sistematicamente:

- Pensar demais no desnecessário
- Ruminar nos acontecimentos futuros
- Fazer um enorme drama e entristecer-se com ele.
- Viver sentindo culpa
- Aborrecer-se de forma constante e amuar
- Exposição excessiva a notícias
- Incapacidade de dizer não
- Sucumbir ao que os outros pensam
- Ruminar no que não deu certo
- Guardar emoções para si próprio
- Necessidade de controlo

A ajuda de um psicólogo pode ser crucial para reorganizar o modo como processamos a informação e para transformar cognições indesejadas e que são destrutivas para a saúde mental. 

Mãos à obra!

Diana Sousa
Psicóloga

terça-feira, 18 de julho de 2017

A Psique do dia #61

A experiência vai dizendo que os comportamentos expressos nesta imagem são determinantes para a promoção da saúde psicológica.

- Não falar demasiado. Não expor demais a intimidade. Não dizer tudo, muito menos dizer tudo a todos. Não tecer juízos de valor acerca da vida dos demais. Não desgastar energia a discutir temas sensíveis ou polémicos com quem tem ideias invioláveis.

- Não ouvir tudo o que nos entra pelo canal auditivo. Ser seletivo na informação que devemos realmente escutar. Não perder tempo a ouvir coscuvilhices alheias que visam depreciar e injuriar pessoas - lembrar da máxima "hoje eles, amanhã nós". Não aceitar de bandeja tudo o que nos é dito, manter o espírito crítico é essencial.

- Não ver televisão excessivamente. Não consumir demasiada informação negativa, provinda, normalmente, de canais de notícias. Não estar demasiado tempo colado a ver ecrãs - vários - debitarem informação não produtiva. Não perder tempo a tentar ver para especular sobre como os outros vivem a sua vida.

Pequenas práticas que nos ajudam imenso a evitar o desgaste emocional, ansiedade, stress, confrontos sociais, transtornos pessoais de várias ordens, inquietação, insónias e mal-estar generalizado. Colocar em prática pode ser complicado, mas como em tudo na vida, parte de uma motivação inicial. Instalando-se o comportamento desejado, o retorno será apreciado e muito bem recebido.


 

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A psique do dia #60


Uma das enormes angústias com as quais um terapeuta se pode deparar é com a óbvia instrumentalização de uma criança. 

Quando se atende um filho de pais separados/divorciados e se constata que a criança é uma arma de arremesso entre os progenitores, ficamos desarmados. Por maior e melhor que seja a nossa intervenção, de nada servirá se os confrontos pai/mãe continuarem ávidos e acesos. Não há estrutura emocional que consiga tolerar uma guerrilha entre dois adultos que outrora se amaram e que atualmente se repudiam. Não há como ajudar a estimular um processo de desenvolvimento saudável, quando a criança vem à sessão semanalmente, mas diariamente se vê entalada entre artilharia vocabular parental. Não há resiliência que suporte uma criança que vive entre as queixas da mãe sobre o pai e o mesmo no sentido inverso, muitas vezes corroboradas pelos avós de ambas as partes.

É intolerável que, numa sociedade de informação como a que vivemos, dois adultos não saibam separar os conteúdos que não dizem respeito às crianças e que são do foro do ex-casal. Agressões verbais assistidas pelos miúdos, queixas que os mais pequenos têm de suster e o denegrir da figura paterna/materna por parte de um dos progenitores têm um impacto psicológico fraturante na criança. E este fator, por si só, devia ser o bastante para que pais e mães soubessem sê-lo muito melhor. 

quarta-feira, 15 de março de 2017

A psique do dia #59

Os nossos pensamentos também se higienizam. Com prática e determinação, aprendemos a domesticar aquilo que nos invade a mente e que produz em nós emoções negativas. Pensamentos recorrentes que não acrescentam nada de bom e que contribuem para estados de espírito desagradáveis, devem ser objeto da nossa análise para que a sua recorrência diminua. É fácil? Não! É rápido? Nem pensar! Vale a pena o esforço do treino? Sem dúvida! Na vida, tudo o que vale a pena dá trabalho e é precisamente o esforço que empreendemos nas nossas lutas que nos edifica como seres humanos de garra!

Diana Sousa


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A psique do dia #58

Perturbações do comportamento alimentar

Existem cada vez mais adolescentes a estruturar em si perturbações do comportamento alimentar (anorexia, bulimia) e a criar verdadeiras deturpações da sua imagem corporal. Ressalvo que tal constatação parte essencialmente da minha prática profissional e não de nenhum estudo científico publicado.

De facto, os estereótipos de magreza instituídos na nossa sociedade, a malvadeza de alguns comentários continuados por parte dos seus pares na escola, a constante comparação com o corpo e o desenvolvimento físico das colegas e as exigências autocentradas, desmedidas e inconsequentes que as meninas colocam a si próprias, são alguns dos aspetos que contribuem para a instalação profunda destas perturbações.

São problemáticas fraturantes na medida em que causam um profundo sofrimento psicológico e roubam a adolescência, que deveria ser vivida com serenidade e sem preocupações tão dolorosas.

Obviamente que quanto mais cedo se intervir, melhor será o prognóstico de uma evolução positiva. Denoto, aqui, que alguma negação vivenciada por certos pais adia o início de uma intervenção consistente, que se deseja precoce. A negação é, neste caso como em tantos outros, um estorvo grave demais e deveras preocupante.

Claramente que compreender e aceitar que um filho está a estruturar em si uma narrativa indesejada é doloroso e muitas vezes insuportável, mas é neste momento que ser-se pai e mãe toma uma exigência imprescindível para o superior interesse dos miúdos. É preciso coragem, é preciso tomar medidas, pedir aconselhamento, apoio. Nunca, jamais, deixar o processo patológico instalar-se porque aí as consequências podem ser nefastas e o processo terapêutico pode tornar-se muito mais moroso, complexo e dependente de uma equipa multidisciplinar de técnicos de saúde. Atuar o quanto antes é o conselho que deixo!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A psique do dia #57

Anedonia – sentes?

Passava os olhos num fórum online onde um jovem afirmava padecer de anedonia desde os 16 anos (dizendo ter agora 18). Explicava que era muito difícil viver neste vazio e perguntava o que outros faziam para minimizar a problemática.

A anedonia é, de forma concisa, a incapacidade de sentir prazer em atividades que anteriormente eram prazerosas, por um longo período de tempo. Esta incapacidade é posicionada como um espectro: pode manifestar-se de forma leve e centrar-se apenas num tópico da vida, por exemplo, o desejo sexual, assim como ser avassaladora e controlar todas as atividades humanas, como o apetite, o sono, a vida social, entre outros. O sujeito pode experimentar uma total indiferença, quer face a emoções positivas como negativas. A anedonia é, muitas vezes, o epicentro da preocupação em doentes com formas severas de Depressão (não sendo exclusiva desta patologia).

Estive a ler as respostas de outros usuários e o intercalar de informação que passavam entre todos. Muitas coisas me preocuparam: sugestão de consumo de drogas, por exemplo. Obviamente, não me centrarei em todas neste texto. Mas a dado momento, o jovem diz: “Tenho de ver se um dia vou a um médico particular ou algo do género para ver se está mesmo tudo bem (quando tiver dinheiro e quando for independente, senão toda a gente fica a saber que fui ver um médico).”

O estigma continua. Soma e segue. A psiquiatria e a psicologia são severamente atingidas pela mácula do preconceito e ainda existe quem prefira passar pela vida sem a viver, do que procurar ajuda e vivê-la o melhor possível. Mas há que enaltecer uma evolução positiva neste paradigma, pelo menos assim o sinto. Existem cada vez mais pessoas a quebrar este tabu. E quando o quebram, ajudam os seus a quebrá-lo também. Melhores dias virão para todos, certamente.