segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A psique do dia #26


Não venham envergonhados, não se revistam de sensações negativas, não se sintam embaraçados quando vêm à consulta e, quase num sussurro atrapalhado, dizem, de mansinho, “não quero mais ter este excesso de peso”; “fartei-me de ser tão gorda(o)”.

Pensem comigo: podiam vir assumir outras vontades: “Não quero mais beber”, “Não quero mais fumar”, “Não quero mais ter ataques de pânico”, “Não quero mais sentir-me atraído por crianças”, entre tantos outros “não quero!”.

Por outro lado, vêm à consulta manifestar um sofrimento muito profundo pelo excesso de peso que o vosso corpo apresenta. Mas reparem, o vosso corpo não é a vossa identidade, muito menos vos define. E se tal vos causa dor e não é consequência de qualquer patologia do foro fisiológico, então o prognóstico é excelente. Não é uma das problemáticas mais cabeludas de resolver, ao contrário do que muitos possam pensar. De facto, com orientação adequada, pode até ser um período muito interessante de aprendizagens e alterações comportamentais direcionadas para o bem-estar geral. Leva tempo? Claro que sim! Sem dúvida! Nada se conquista com facilidade, como a vida faz questão de nos ensinar a cada dia.

O corpo molda-se àquilo que queremos e desejamos, com trabalho, tempo e dedicação. Concordo que, se o excesso de peso está intrinsecamente associado a várias doenças cardiovasculares, (entre muitas outras) que estão no topo das que mais mortalidade traz aos portugueses, se o excesso de peso apresenta comorbilidade com a Depressão e a Ansiedade e se, ao mesmo tempo, vos traz sofrimento psicológico, então deverá ser algo a resolver. E fazê-lo, apenas demonstra inteligência e força de vontade. Esta coragem, esta força do querer não pode trajar-se de embaraço ou vergonha, mas sim de arrojo e determinação, rumo ao que se ambiciona: saúde física e psicológica.

Só uma última nota: a propensão para o consumo compulsivo de alimentos altamente calóricos, associada à falta de vontade de exercitar o corpo para queimar o excesso nutricional, está intimamente relacionada com fatores de ordem psicológica, que não se compadecem de dietas da moda, mas sim de profundas alterações comportamentais. Não se deixem encantar pelas dietas que então em voga.

Boa semana!

Diana Sousa

 

 crédito foto: diariodeumadietista.com