Uma das enormes angústias com as quais um terapeuta se pode deparar é com a óbvia instrumentalização de uma criança.
Quando se atende um filho de pais separados/divorciados e se
constata que a criança é uma arma de arremesso entre os progenitores, ficamos
desarmados. Por maior e melhor que seja a nossa intervenção, de nada servirá se
os confrontos pai/mãe continuarem ávidos e acesos. Não há estrutura emocional
que consiga tolerar uma guerrilha entre dois adultos que outrora se amaram e
que atualmente se repudiam. Não há como ajudar a estimular um processo de desenvolvimento
saudável, quando a criança vem à sessão semanalmente, mas diariamente se vê
entalada entre artilharia vocabular parental. Não há resiliência que suporte
uma criança que vive entre as queixas da mãe sobre o pai e o mesmo no sentido
inverso, muitas vezes corroboradas pelos avós de ambas as partes.
É intolerável que, numa sociedade de informação como a que vivemos, dois adultos não saibam separar os conteúdos que não dizem respeito às crianças e que são do foro do ex-casal. Agressões verbais assistidas pelos miúdos, queixas que os mais pequenos têm de suster e o denegrir da figura paterna/materna por parte de um dos progenitores têm um impacto psicológico fraturante na criança. E este fator, por si só, devia ser o bastante para que pais e mães soubessem sê-lo muito melhor.